A tela em branco é algo angustiante. O maço de cigarro descansava sobre a escrivaninha. E ele odiava a falta da correção da ortografia. Ouvia Feira Moderna e sentia que estava em outra época, outro contexto, era palpável.
Todos os dias acordava no meio da noite, fumava um cigarro olhando os filmes que nunca havia assistido, sentado na cama, passava as mãos sobre o rosto, e tentava dormir, fracassando mais uma vez.
Não conseguia ouvir uma música até o fim, era impulso, quando estava quase acabando, mudava rápido, mesmo que fosse para repetir, era estranho, não era para acabar, não podia acabar, ah, sim, ele possuia sério problemas com os finais, quaisquer que fossem.
Era necessário uma continuidade eterna, mesmo que a idéia de infinito lhe gerava expressões de tédio, ah, mentira que a face tenta nos contar, qualquer sinal de término já o assustava, amedrontava, então, o moço procurava sempre uma maneira de trazer o passado à tona.
Nada era deixado, era sempre um fluxo, inúmeras cordas que uniam o passado ao presente, tantas deturpações, tantas memórias inventadas, mas eram lembradas todos os dias, em meio a tanta nostalgia patética, eram cultuadas, altares e fotografias, papel de chocolate e flores de plástico, tudo, era tudo preservado por um medo irracional de se perder no universo.