É forte. Como se a imaginação se confundisse à realidade. Talvez como fusão entre as duas.
Imagino-me de vários ângulos e passo a me enxergar nesses ângulos, como se estivessem “trocando a câmera”. Preciso prestar muita atenção para perceber em que posição me corpo está de fato; isso somado ao movimento cria um efeito espetacular. Contudo, de olhos fechados, é muito mais difícil perceber a posição (ou qualquer outra coisa, diga-se). As vezes meus olhos fechados fazem parecer que estou em movimento quando na verdade estou parado; quando escuto música e fecho os olhos, parece que meu corpo vibra e se mexe conforme a música, mas estou novamente parado: quando olho para minhas mãos, vejo toda a imagem do meu corpo saindo de foco, mas ainda do ritmo da música, como pequenas vibrações que distorcem a visão e a devolvem ao normal em alternância, e no tempo da música. Sinto-me como um mostrador digital de um equalizador.
Consigo sentir pelo tato as vibrações das grandes caixas de som. Quando me ponho em movimento de fato, minha mente trabalha tantas variáveis que já não leva conta tantas outras, e o que resta (tudo o que retenho) é a música. Olho a banda no palco. Verde, vermelho e prata, cores belíssimas, um show de luzes e cores; realmente, os caras sabem tocar, tanto no sentido técnica quanto no sentido empolgação. Mal posso acreditar que estão tocando “Jardim elétrico”.
A cada explosão da bateria e do baixo sinto que algo explode por dentro em mim, uma vibração ou energia estranha, como se algo tentasse transbordar.
Depois saio andando. Algo está diferente: tudo parece inclinado uns cinco graus para esquerda. Além disso, tudo parece se mexer no mesmo ritmo dos seus passos, o que dificulta um pouco a caminhada, mas a deixa interessante. Descendo pelo corredor, ele avista um grupo de hippies, vendendo artesanato e frutas orgânicas. O ambiente tinha uma energia boa, eles sorriam e conversavam. Quando me aproximo, vejo a garota das bananas, sentada de pernas cruzadas e usando roupas largas e coloridas. Tinha olhos de um azul profundo, os cabelos escuros, um sorriso encantador. Sem pensar, pergunto:
“Você é um anjo?”
Ela ri. Compro duas bananas orgânicas, e comento que estava justamente procurando bananas. Assim que falo isso, uma outra garota compradora aparece e diz a mesma coisa (que estava a procura de bananas). Acho que a vendedora entendeu que era um anjo no sentido de estar vendendo justamente o que eu procurava, mas entendeu também que talvez eu falasse do seus olhos angelicais. Em nenhum dois casos ela viu maldade e nem eu, era apenas um elogio sincero.
Continuei descendo, a vagar pelos corredores do prédio. Estava totalmente imerso no mundo da minha mente, que fluía livre pelos estímulos dos arredores. Ao fim do caminho, percebi que estava longe, havia saído e estava agora em um lugar que já me era muito familiar. Deitei na grama em baixo de uma árvore onde podia ver um ninho de corujas. Estava vazio e completamente silencioso.
Pego o isqueiro e acendo um cigarro. Meu corpo e minha mente parecem girar enquanto sinto o relaxamento. Fico olhando as corujas enquanto uma pequena nostalgia feliz atravessa minha mente. Impressionante eu ter ido parar em um lugar onde, semanas antes, estivera ali naquele gramado com amigos, em condições semelhantes.
Voltei ao anfiteatro de arena onde os outros estavam deitados. Deitei e fiquei a observar as estrelas. Novamente, parecia estar pousando depois de ter atravessado um túnel.
fabao! que relato mais alucinado! sempre conversamos sobre escrever dessas viagens, vc fez muito bem.
ResponderExcluirde todas as saudades uma das maisn fortes é compartilhar momentos como este com vc!
to feliz que vc compartilhe, tudo mudou mas te lendo creio que ainda te entendo!
te amo!
Ah flor.. assim vc força meu coração doentinho... beijos com muuuita saudade!!!
ResponderExcluirmuito bom! num sabia que tinha essa pegada na escrita... quase um beat! abraços e foi uma honra fazer parte desta bela trip! estávamso todos em sintonia...
ResponderExcluir