segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Torre

Eles estavam sós. Fazia frio e um nevoeiro já se ameaçava, mas a vista espetacular do lugar fazia ver a cidade inteira, e esqueciam por vezes do tremor da pele, sem saberem se tremia pela temperatura ou pela ligeira lascívia daquele momento, que era fugaz e ao mesmo tempo longo, como a madrugada que adentravam.
            A noite de fato havia sido longa. Durante a festa, a banda tocou a todo vapor uma combinação de Mutantes com Tim Maia Racional, tornando a trilha sonora algo inacreditável. Eles, porém, ouviram à relativa distância, pois fugiram da multidão para observar estrelas, e haviam se perdido em uma sacada fria de onde apreciaram a vista, onde aproximaram o rosto, murmurando mentiras sinceras.
            O som de fundo agora era outro, e não poderia ser mais propício do que os tilintares do amanhecer que começou a se anunciar. Estavam no alto de uma alta torre, ignorando todas as proibições e algumas grades. Deitaram-se. Novamente os rostos ficaram próximos, e se olharam sem silêncio. Bastante tempo depois, ele disse:
            - O que define intimidade não é a capacidade de falar com alguém, mas de permanecer ao seu lado em silêncio.
            Ela sorriu. A figura dela era mais que perfeita para se encaixar naquele céu de baunilha de Monet. Quando ela lançava um olhar, parecia que o atravessava. Quando sorria, o desconcertava. Fazer filosofia barata sobre a vida daquele local impressionante ao amanhecer parecia tão trivial quanto surreal, e esqueceram um pouco do restante da vida.

            

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