Eles estavam sós.
Fazia frio e um nevoeiro já se ameaçava, mas a vista espetacular do lugar fazia
ver a cidade inteira, e esqueciam por vezes do tremor da pele, sem saberem se
tremia pela temperatura ou pela ligeira lascívia daquele momento, que era fugaz
e ao mesmo tempo longo, como a madrugada que adentravam.
A noite de fato havia sido longa.
Durante a festa, a banda tocou a todo vapor uma combinação de Mutantes com Tim
Maia Racional, tornando a trilha sonora algo inacreditável. Eles, porém,
ouviram à relativa distância, pois fugiram da multidão para observar estrelas,
e haviam se perdido em uma sacada fria de onde apreciaram a vista, onde
aproximaram o rosto, murmurando mentiras sinceras.
O som de fundo agora era outro, e
não poderia ser mais propício do que os tilintares do amanhecer que começou a
se anunciar. Estavam no alto de uma alta torre, ignorando todas as proibições e
algumas grades. Deitaram-se. Novamente os rostos ficaram próximos, e se olharam
sem silêncio. Bastante tempo depois, ele disse:
-
O que define intimidade não é a capacidade de falar com alguém, mas de
permanecer ao seu lado em silêncio.
Ela sorriu. A figura dela era mais
que perfeita para se encaixar naquele céu de baunilha de Monet. Quando ela
lançava um olhar, parecia que o atravessava. Quando sorria, o desconcertava.
Fazer filosofia barata sobre a vida daquele local impressionante ao amanhecer
parecia tão trivial quanto surreal, e esqueceram um pouco do restante da vida.
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