Já era tarde.
Gabriel estava sentado, arqueado sobre si mesmo. Os olhos vermelhos lhe
pesavam, respirava fundo, mas pouco podia. Tinha a mão sobre o estômago, e com
a outra se apoiava na mesa empoeirada. As dores estavam aumentando e ficava
cada vez mais difícil ignorar. Foi até a cozinha e pegou uma banana, estava
passada, mas ele comeu depressa. Ainda a mão sobre o estômago. Voltou ao quarto
e sentou-se. Já não soava alto o som intempestivo da fase clássica dos
Mutantes, que enchia a casa tanto quanto os fortes raios de sol que aqueciam a
cama debaixo da janela. Estava no silêncio, em uma noite sem lua, num quarto
sem ninguém.
Estendeu a mão sobre a gaveta,
procurando algo. Ainda arqueado, colocou sobre seu colo um bloquinho de papel
de lembretes. Testou três canetas para achar uma que ainda escrevesse, as
tintas estavam secas. Então escreveu: “Acorde mais cedo. Faça um sanduíche
gostoso e NÃO beba café o dia todo! Abraços... ”, e colou em frente a tela do
computador. Então riu. A frase de fato tinha ficado ambígua.
Depois, pôs-se a
escrever.
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