terça-feira, 16 de setembro de 2014

Gabriel - dor de estômago

Já era tarde. Gabriel estava sentado, arqueado sobre si mesmo. Os olhos vermelhos lhe pesavam, respirava fundo, mas pouco podia. Tinha a mão sobre o estômago, e com a outra se apoiava na mesa empoeirada. As dores estavam aumentando e ficava cada vez mais difícil ignorar. Foi até a cozinha e pegou uma banana, estava passada, mas ele comeu depressa. Ainda a mão sobre o estômago. Voltou ao quarto e sentou-se. Já não soava alto o som intempestivo da fase clássica dos Mutantes, que enchia a casa tanto quanto os fortes raios de sol que aqueciam a cama debaixo da janela. Estava no silêncio, em uma noite sem lua, num quarto sem ninguém.

           Estendeu a mão sobre a gaveta, procurando algo. Ainda arqueado, colocou sobre seu colo um bloquinho de papel de lembretes. Testou três canetas para achar uma que ainda escrevesse, as tintas estavam secas. Então escreveu: “Acorde mais cedo. Faça um sanduíche gostoso e NÃO beba café o dia todo! Abraços... ”, e colou em frente a tela do computador. Então riu. A frase de fato tinha ficado ambígua. 
Depois, pôs-se a escrever.

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